terça-feira, 27 de setembro de 2011

ONDE FICA O GURIÚ? VOCÊ QUER MESMO MANDAR O SEU ADVERSÁRIO PARA LÁ?


PRAIA DO GURIÚ - LOCALIDADE PERTENCENTE A JERICOACOARA

Não é de hoje que aqueles que não alcançam a vitória em suas campanhas políticas em Santana são enviados a um lugar folclórico chamado Guriú (ou Buriú).
Nesta acirrada disputa política última pela prefeitura de Santana, frente a tantas provocações e picuinhas entre situação e oposição, me pus a perguntar quando, onde e porque teria surgido este costume de se mandar os que perdem politicamente ao Guriú.
Além disso, surgiu em mim a curiosidade de saber se tal lugar existiu ou existe.

Como todo bom e curioso internauta, lancei o nome de meu anseio na mágica barra de pesquisas e, "zás", o tecnológico oráculo internáutico informou-me que existe uma praia em Jericoacoara chamada PRAIA DO GURIÚ, local mui visitado por turistas e onde um rio chamado Guriú desemboca e cavalos marinhos são preservados por lei.
Conversando com santanenses, outras informações foram surgindo. Um aluno informou-me que uma fazenda onde morara com os pais quando menino tinha por nome Buriú. Era distante de tudo, de difícil acesso e era um criadouro de muriçocas. Meu afilhado disse-me e outro aluno confirmou, que existe um lugarejo entre Granja e Camocim por nome Guriú com as características que existem no imaginário de nosso povo a muito tempo: de solo ruim, com muita muriçoca (que chegam a ter o" tamanho de uma galinha") e de difícil acesso.
Lenda ou não o rio aparece citado neste trecho da antiga RESOLUÇÃO Nº 626 DE 22 DE DEZEMBRO DE 1853, que mudou os limites da Freguesia de Sant'Anna(Paróquia de Santana) e da Freguesia da Barra do Acaracú(Paróquia do Acaraú):
"Artigo 1º: A Freguesia da Barra do Acaracú fica d’ora em diante extremando com as freguesias limítrofes pela maneira seguinte: com a Granja pela Barra do rio Guriú até a fasenda – extrema – de Clemente Antonio inclusive com todo terreno Tucunduba de dentro; com a Freguesia de Sant’Anna, pelo lugar ----------- Marco – na ribeira do Acaracú por um e outro lado, exclusive o Nicho de S. Manuel; com a da Imperatriz pela margem occidental da ribeira do Aracaty – Assú, até a fasenda São Francisco no Aracaty – Meirim, ficando pertencendo à Freguesia de Santa’Anna o território restante pela margem do mesmo rio acima até a fasenda – Almas – inclusive. Revogadas as disposições em contrário."
Antônio bezerra em seu livro Notas de Viagem cita este rio em sua viagem rumo ao porto de Camocim.
Uma colega professora informou-me que, quem começou este costume de mandar o povo ao Guriú, foi o senhor Zezé Tomás, sobrinho do padre Antônio Tomás, figura muito conhecida em Santana por seus trajes galantes e seu senso de humor peculiar.
Independente da existência ou não do local, mesmo que esta exista, o Guriú do povo Santanense é o local das lágrimas, para onde se manda os que perdem, aonde os que perdem desejam resguardar-se da pilhéria dos que ganham, é por fim o exílio, de onde se volta quando passa a tempestade.

SAIBA COMO CHEGAR À PRAIA DO GURIÚ ATRAVÉS DO MAPA. A ROTA ESTÁ REPRESENTADA PELA LINHA AZUL

Exibir mapa ampliado

ACESSE ESTES LINKS PARA VER FOTOS DA BARRA DO RIO GURIÚ E DA PRAIA DO GURIÚ:
http://www.panoramio.com/photo/58596147
http://www.panoramio.com/photo/58596213
http://www.panoramio.com/photo/58596718
http://www.panoramio.com/photo/58596764
http://www.panoramio.com/photo/58597494

domingo, 25 de setembro de 2011

SOBRE O DOUTOR JOSÉ MENDES PEREIRA DE VASCONCELOS

Uma vez que o Doutor José Mendes Pereira de Vasconcelos foi o redator chefe do Jornal Município de Sant’Ana até 1889, conhecer a sua vida e formação é algo necessário para compreendermos a redação do folhetim que contou a história de Santana do Acaraú até 1881.

DADOS BIOGRÁFICOS
Filho de Antônio Mendes Pereira de Vasconcellos e Theodora Ferreira Mendes, José Mendes Pereira de Vasconcelos nasceu a sete de Janeiro de 1844 na freguesia de Sant’Anna.
Começou em 1858 (aos 14 anos), na cidade de Sobral, os estudos que lhe prepararam para o concurso de praticante da Alfândega de Pernambuco, no qual foi admitido em cinco de dezembro de 1863 (aos 19 anos).
Exerceu esta atividade até 22 de Abril 1869, quando assumiu o cargo de amanuense da Recebedoria da Província de Pernambuco, cargo para o qual foi nomeado por concurso em 10 de Abril do mesmo ano.
Dois anos antes de assumir o posto de amanuense, em 1867, matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, formação que concluiu em 15 de Novembro de 1871, aos 27 anos de idade.

A FORMAÇÃO NA FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE

Instituída, após a independência do Brasil da Metrópole portuguesa, juntamente com a de São Paulo, a Faculdade de Direito do Recife foi criada, em 1828, a fim de favorecer o surgimento de uma elite intelectual com pensamento próprio, distante das ideias, valores e da cultura da Metrópole Portuguesa.
Um novo e independente país necessitava de uma identidade própria, de um arcabouço jurídico e legal próprio, e de uma elite intelectual capaz de enfrentar os desafios advindos da conquista da independência.
Com o início dos cursos de direito no Brasil, tornava-se, de forma ascendente, a profissão e a carreira do ‘Bacharel’, muito estimada, não só pelo curso ou a profissão em si, mas pela carga simbólica atribuída ao profissional de direito e por conta das possibilidades políticas que se abriam a quem dispunha de tal formatura.
Das duas faculdades de direito saíram ministros, senadores, governadores, deputados, escritores e jornalistas, “pensadores que ditaram os destinos do país”. Schwarcz, em seu livro ‘O Espetáculo das Raças’, cita um trecho de um artigo da Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife, (edição de 1904), onde um aluno, em 1831, ao descrever o status da profissão de Bacharel, afirma que no Brasil havia “duas aspirações: obter para si patente de guarda nacional e conseguir o gráo de bacharel ao menos para um de seus descendentes”. Essa, por certo, terá sido também, a aspiração dos pais de José Mendes Pereira.
Quando foi admitido na Faculdade de Direito do Recife, esta se encontrava em fase onde já havia vencido as dificuldades de sua instalação no Recife, bem como a incipiente etapa de Olinda onde, por primeiro, havia se instalado.
Nesta, não só reformas físicas ocorreram. A Reforma Acadêmica de 1854, instituída pelo decreto 1386, estabeleceu regras para disciplinar desde o calendário de aulas até o número de reprovações, bem como inseriu no currículo as disciplinas de direito romano e direito administrativo de forma permanente, dando um passo significativo de ruptura com o modelo curricular anterior que era praticamente uma cópia do da faculdade de Coimbra, marcadamente monarquista.
Toda a reforma curricular deste período buscava o rompimento com o pensamento Metafisico em função da adoção de um pensamento cada vez mais lógico, positivista e evolucionista.
Além disso, neste momento, a Faculdade de Direito do Recife já dispunha de professores que haviam sido formados nas academias brasileiras e que gozavam de prestígio nacional; e o País de um “arcabouço de leis (sem falar da própria Constituição de 1824), de comentários doutrinários a essas leis e decisões judiciais que constituíam um «sistema» eminentemente brasileiro, com tipicidades marcantes e diversas de qualquer outra experiência jurídica estrangeira, mesmo a portuguesa”.
Schwarcz cita, em seu livro acima referido, um trecho de um prefácio escrito por Silvio Romero num livro de Tobias Barreto que descreve bem este período:
O decênio que vai de 1868 a 78 é o mais notável de quantos no século XIX constituíram nossa vida espiritual... De repente a imutabilidade das coisas se mostrou... Um bando de ideias novas esvoaçou sobre nós de todos os pontos do horizonte... Positivismo, evolucionismo, darwinismo, crítica religiosa, naturalismo, cientificismo na poesia e no romance, novos processos de crítica e história literária, transformação da instrução do direito e da política, tudo então se agitou e o brado de alarma partiu da Escola do Recife. (Grifo nosso)
Em Recife a presença de estudantes cearenses era marcante, tanto pela sua quantidade, quanto pelo que produziam no tocante a atividades culturais e literárias. Muitos foram os centros, sociedades e associações fundadas por cearenses, dentre estas a mais conhecida foi a Sociedade Dezoito de Janeiro, promotora da arte dramática, da cultura e da literatura.
Depois da segunda metade do século XIX mais de 230 ‘bacharéis’ cearenses foram formados. Destes, muitos foram os que voltaram à sua terra natal para muito contribuir na justiça, nas letras e na administração pública da província.

VIDA PÚBLICA

Tal fato é observado na vida do doutor José Mendes. A 28 de Março de 1872 foi promovido a 3º escriturário da Alfandega de Pernambuco, lugar do qual pediu exoneração a 11 de Junho de 1873, por ter, pelo Decreto de cinco de Abril, sido nomeado juiz municipal de órfãos do termo de São Bernardo das Russas, do Ceará; cargo que exerceu de 12 de Maio de 1873 até Agosto de 1876, quando, por estar doente, retirou-se do termo, pedindo licença, e não voltando mais a exercê-lo.
Pelo Decreto de 27 de Julho de 1877 foi nomeado juiz municipal e de órfãos do termo de Viçosa, assumindo o exercício no dia 22 de Outubro. Exerceu este cargo até Maio de 1879, quando pediu sua exoneração por ter feito quatriênio.
Após sua exoneração foi nomeado promotor publico da comarca de Sobral, cargo que exerceu até 20 de junho do dito ano por ter sido nomeado Inspetor do Tesouro Provincial, função que assumiu desta data até 1891, quando, também dela, pediu exoneração.
Entrando em vigor a Lei eleitoral de 1881 (denominada Lei Saraiva) José Mendes foi, no biênio de 1882 a 1883, eleito deputado á Assembleia Legislativa da Província e, em ambas as sessões, foi eleito 1.o Vice-Presidente e líder do partido liberal.
Como presidente da Assembleia assignou o autógrafo da Lei n. 2034 de 19 de Outubro de 1883 que criou o imposto de 100$000 réis sobre cada escravo da Província, facilitando a extinção da escravidão na Província.
Foi eleito deputado á Assembleia Geral Legislativa em 1889, mas, proclamada a Republica, foi dissolvido o corpo legislativo: Câmara e Senado, e seu mandato ficou sem validade.
Em 1891 foi eleito Senador estadual e 1º Vice-Presidente do Senado, mas ocorrendo a deposição do General Clarindo de Queiroz, a 17 de Fevereiro de 1892, foi reformada a Constituição Estadual e extinto o Senado.
Foi contestante nas eleições de deputados federais, em 1897 e 1900, pelo 3º distrito do Ceará, defendendo perante as comissões de poderes a legitimidade de sua candidatura sem sucesso, uma vez que seus competidores, candidatos oficiais.
Em Santana foi, quando vigorava o domínio da Monarquia, presidente do diretório do Partido Liberal do Município e vereador e presidente da Câmara quando, com a proclamação da Republica, foi demitida a Câmara Municipal, assim como as demais do Estado. Na Republica presidiu o Partido Democrático e depois o partido Revisionista do Município.
Foi, desde 1895, provedor da Casa de Caridade de Santana e Presidente do Conselho Particular da Sociedade de S. Vicente de Paulo da referida cidade.
Faleceu em Santana em seis de Agosto de 1915.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Consulte o autor do texto.
Suprimimos as referências para evitar plágios.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A CULPA É DE DOM JOSÉ?


Não é de hoje que circula na cidade de Santana do Acaraú o seguinte lamento: "Santana do Acaraú não tem mais nada porque Dom José Tupinambá da Frota levou tudo o que de mais valioso tínhamos para o Museu Diocesano".
Deveras é árdua a tarefa de coletar objetos que contem a história de uma região.Para a fundação do singelo Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Sant'Anna, muitas vezes, durante o recebimento de peças doadas, fomos testemunhas do quanto foi difícil aos doadores realizar tal ato. Para quem doa um objeto que está "impregnado" de sua história, separar-se dele é como vivenciar a morte de um ente querido.
Apliquemos agora o exemplo dado à época em que Dom José realizou seu trabalho de coleção de peças. Grande era o número de analfabetos, muitos dos doadores ou pessoas que venderam peças nunca tinham posto os pés em um museu e muitos padres, apesar da condição de suas formações, desconheciam tal arte. A idéia de um Museu era estranha ás pequenas "vilas" que circundavam a moderna Sobral.
Nas entrelinhas do que falamos acima, muitos alegam que o 1º Bispo de Sobral "confiscou" as peças que confiscou, para fazer um Patrimônio para a Igreja, acusada por muitos de seus filhos de gananciosa.
Tais pessoas desconhecem a formação que Dom José recebeu em sua preparação para ser padre em Roma, onde, sem sombra de dúvidas deve ter conhecido grandes museus.
Quem afirma o que descrevemos acima, tem uma visão superficial e totalmente destoante daquela que tinha Dom José. Para além do valor intrínseco do acervo do Museu (que constitui sem dúvida um Patrimônio), Dom José viu no Museu a possibilidade de preservar anos e anos de história e memória de toda a zona Norte do Estado do Ceará.
O que vislumbrava o Bispo traduz- se no fato de ser o Museu Dom José o 5º EM ARTE SACRA E DECORATIVA SEGUNDO O CONSELHO INTERNACIONAL DE MUSEUS (ICOM).
Quisera que realmente Dom José tivesse levado de Santana do Acaraú todas as nossas valiosas peças de arte Sacra e decorativas para integrá-las ao acervo do Museu Diocesano. Do número que suspeitam os pessimistas da cidade, nem a centésima parte lá existe!
Tais peças, senhores e senhoras, são objeto de um tombamento muito acurado. Estas, em virtude de seu cadastro, são protegidas pela Constituição Federal e, sendo o Museu instituição que faz parte do Sistema Brasileiro de Museus (SBM), tem técnicos especializados na conservação de seu acervo e a garantia de recursos para a manutenção da instituição.
Com "despudorada" audácia, para confirmar se a original imagem de Senhora Sant'Ana lá estava (uma vez que muitos guardiões de nossa memória dizem que a que está na Igreja matriz é uma réplica), visitei o Museu com tal fim.
Sendo muito bem recebido pela Senhora Giovana Mont'Alverne, diretora do mesmo, buscamos averiguar, nas duas únicas imagens da santa lá existentes , as marcas(dois orifícios na base da imagem para a introdução dos pinos do andor) que, segundo pessoas de Santana do Acaraú, confirmariam ser a da cidade.
Inspecionando, palpando e percutindo as bases da imagem, não encontramos os referidos sinais. Além disso, as imagens do Museu nada tinham de semelhante da "réplica" que está na Matriz de Santana do Acaraú.
É mais verdadeira a hipótese de que muitos SANTANENSES (QUE EM SUA GRANDE MAIORIA MORAM FORA DA CIDADE) compraram indevidamente ou levaram de modo escuso os seguintes objetos: a imagem original de Senhora Sant'Ana (comprada pelo Padre Antônio dos Santos da Silveira em 1739, quando da fundação da capela), o cálice de ouro cravejado de esmeraldas (em quantidade corespondente aos anos de sacerdócio do padre)dado ao padre Arakén por ocasião de um aniversário de ordenação sacerdotal, um ostensório de ouro onde o santíssimo foi exposto por ocasião da festa de cem anos da Paróquia em 1948, o lampadário de prata do Sacrário da Igreja Matriz,dentre outros.
A culpa colocada em Dom José foi oportuna a quem "extraviou" peças que hoje poderiam estar constituindo o acervo do Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Sant'Anna e contando a história de nossa cidade.
É fácil colocar toda a culpa do atraso cultural de Santana em Dom José, para livrar -se do peso de consciência de não estar fazendo sua parte.
FIQUEMOS ATENTOS! SANTANA DO ACARAÚ É CADA UM DE NÓS!

sábado, 10 de setembro de 2011

SANTANA DO ACARAÚ: QUE TERRA É ESSA? - CAPÍTULO 1

Oferecer a definição de uma cidade aos nativos e aos amigos que querem conhecê-la é uma tarefa difícil por várias razões. A primeira é a da dimensão da alma humana. Nenhuma descrição, por mais bem feita que seja pode alcançar o tamanho da alma de uma terra. A segunda diz respeito ao fato de cada um ter seu ângulo de visão.
Contudo, empreender esta tarefa é necessário, uma vez que nosso trabalho já conseguiu trazer esta questão fundamental e existencial às mentes e corações de muitos que lêem este blog.
Santana do Acaraú, enquanto cidade, é uma criação do século XIX,surgida algumas poucas décadas antes de ser reconhecida oficialmente como Vila em 3 de Novembro de 1862. Antes disso, nos séculos XVII e XVIII, os documentos oficiais do Império e da Igreja Católica mencionam o Curato do Acaraú ou a Capela de Santana do Olho D'Água e Almas ou ainda o Curral Velho.
Todavia, fatos do século XVII, tornam Santana única em sua história.
Frei Cristóvão de Lisboa, Frade Franciscano eleito para ser Custódio da Missão Franciscana do Maranhão (território que incluia Maranhão, Pará, Ceará e Piauí) e considerado o primeiro Naturalista a estudar os animais e árvores do Brasil, foi o responsável pela gênese de nossa história.
Em viagem que empreendeu, em 1626, de São Luiz ao Fortim do Amparo, sofreu perseguição de índios que o obrigaram a desviar a sua rota de tal forma que encontrou abrigo no Serrote da Rola (acidente geográfico da cidade de Santana, onde abrindo o baú das imagens dos santos encontrou somente intacta a de Santa Ana, a quem atribuiu a graça de ter escapado, prometendo-lhe construir naquele local um templo em sua homenagem.
No dia 23 de Setembro de 1683 a coroa portuguesa concede sesmaria a Manoel de Góes e companheiros no vale do rio Acaraú. Esta sesmaria foi uma das primeiras concedidas na história do Ceará e as porções delas que realmente foram ocupadas deram origem a uma das localidades mais antigas do município: O Curral Grande.
Aquelas que não foram ocupadas pelos companheiros de Manoel de Góes, foram cedidas em parte aos irmãos Sebastião de Sá Barroso e Antônio de Sá Barroso que anos mais tarde venderam duas porções de sua imensa gleba de terra ao amigo Padre Antônio dos Santos da Silveira, escrivão do Cura da Caiçara.
Este, unindo a porção de terra denominada Olho D'Água àquela chamada Curral Velho, restaurou a velha casa de taipa que ali já existia e o Curral para constituir sua fazenda de gados onde, em 1739, construiu uma capela de taipa em honra a Santa Ana, para cumprir a promessa de Frei Cristóvão, tendo por construtores os índios que eram escravos de Antônio Coelho de Albuquerque.
Foi ao redor desta, não de forma espontânea, mas planejada pelos coronéis da época, que se constituiu a Vila para a criação de uma Câmara independente de Sobral e do Acaraú.
No dia 24 de Janeiro de 1849, na fazenda Arara, hoje pertencente ao território de Santana nasceu o Padre Doutor João Augusto da Frota líder do movimento Abolicionista do Ceará e um dos fundadores do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará.
Sete anos antes, em local do território Santanense ainda desconhecido, nasceu no dia 31 de Agosto, João Cordeiro da Costa, um dos expoentes do movimento abolicionista do ceará.
Por aqui passou Padre Ibiapina em Outubro de 1862,promovendo a reconciliação dos inimigos, unindo o povo em mutirão que resultou na construção do primeiro cemitério da cidade e na construção de uma das melhores Casas de Caridade da província no dizer de Antônio Bezerra.
Embora seja Acarauense, Santana foi a terra predileta de Padre Antônio Tomás, onde escreveu muitos de seus sonetos. O que dissemos se comprova no fato de ter escolhido Santana como lugar do descanso de seus restos mortais, cujo túmulo se encontra na Igreja Matriz da cidade.
Da frutuosa e nobre estirpe da família Tomás nasceu, no dia 18 de outubro de 1903, José Isaías de Thomaz Lourenço, um dos primeiros educadores de nossa cidade, fundador da Escola Padre Severiano, do Jornal 'A Defesa' e do teatro Manuel da Frota. Colaborou no Jornal Correio da Semana, foi exímio poeta e o pioneiro, em seu tempo, em obras de assistência promovidas de forma articulada como a construção da Vila Vicentina no Bairro do Retiro e Campanha de doação de roupas e gêneros alimentícios em época de secas.
Em 13 de Janeiro de 1930, em Santana, nasceu Francisco das Chagas Vasconcelos, um dos fundadores do PMDB no Ceará e orador cujos discursos ainda hoje são objeto de estudos em Universidades dentro e fora do Brasil.
Santana é o berço de João Ananias de Vasconcelos Neto que foi por duas vezes prefeito dela, ex - secretário de saúde do Estado do Ceará e atualmente deputado federal.
Ele e os líderes populares de mais de cem associações comunitárias criaram um instrumento de participação popular nas políticas públicas que se tornou modelo para outros no Brasil: O Conselhão, espaço onde o povo discute os problemas da cidade, dá sugestões e faz reinvidicações.
Para as letras do Ceará e do Brasil Santana deu José Alcídes Pinto no dia 1º de Setembro de 1923.
Formou-se o nosso "Poeta Maldito", nascido na localidade Santanense de São Francisco do Estreito (Parapuí), em Jornalismo, na Faculdade de Filosofia da antiga Universidade do Brasil no Rio de Janeiro. Foi professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará, escreveu romances, contos, novelas, peças de teatro, ensaios e poesias que foram objeto de inúmeros prêmios; e um dos principais responsáveis pela introdução do Movimento Concretista no Ceará.
Faleceu, após trágico acidente, no dia 2 de Junho de 2008 em Fortaleza.
Nas artes plásticas e também para a literatura, ao Ceará, Santana deu Audifax Rios, nascido em 17 de Abril de 1946.
Foi cenógrafo da Tv Ceará, fez ilustrações para os Jornais O Unitário, Correio do Ceará e o Pixote, e diretor de diversas agências de propaganda: Imagem, Dínamo, A.S Propaganda, dentre outras.
Teve sua estréia nas artes plásticas e sua premiação do gênero no 1º Salão dos Novos, em 1968 (3º Lugar), a segunda na Unifor Plástica de 1986 e a terceira no Salão de Abril de 1989. Fez mais de vinte exposições individuais,a primeira (Raiz da Gente) em 1982.
Além disso produziu a arte de mais de trezentas capas e ilustrou os livros de inúmeros autores Cearenses e Nacionais.
Por ocasião do Centenário do fim da Guerra de Canudos fez duas exposições, um selo para os correios e cartão telefônico para a Telebrás.
Como escritor produziu vonte folhetos de cordel, três livros de memórias de sua terra e vinte e cinco livros, tendo ainda outros que estão por vir à público.
Para a historiografia cearense, Santana deu o rebento José Aírton de Farías, que nela nasceu em 1973.
O mesmo é formado em direito pela Universidade Federal do Ceará, em História pela Universidade Estadual do Ceará e mestre em História social Pela UFC.
Sua obra historiográfica é composta de biografias, ensaios acadêmicos e textos sobre o futebol local. Dentre estas a mais conhecida é o seu livro 'História do Ceará - da Pré História ao Governo Cid Gomes', utilizado pelo ensino público e privado no ensino de história do Ceará.
Um último exemplo que trazemos, para figurar a vocação de Santana de gerar grandes vultos, é o do Jornalista Adírson Vasconcelos, filho do Ex - prefeito João Adeodato de Vasconcelos e o pioneiro em escrever a história de Brasília.
Muitos outros exemplos poderiam ser dados para construirmos a identidade de Santana do Acaraú,muitos deles ainda desconhecidos e outros de renome local.

sábado, 3 de setembro de 2011

ATÉ QUANDO?

Dia 2 de setembro de 2011: assalto na casa lotérica de Santana do Acaraú. Quem, na pacata história de nossa cidade (pelo menos até alguns anos atrás), imaginaria tal coisa?
Não quero fazer sensacionalismo, minha proposta neste arremedo de crônica é sugerir uma reflexão mais profunda! Não será tal acontecimento sinal de decadência de uma terra que tem uma alma grande e uma vocação nobre?
Acredito que a raiz de todos os nossos males como povo está no fato de estarmos “perdendo a nossa alma”. Parece duro o termo, mas é isso mesmo: sobre nós grassa o mal de uma baixa auto - estima coletiva que tem nos levado a uma desorientação massificada.
Sei que os males de que vou tratar não são exclusividades de Santana, contudo isto não pode nos impedir de fazer uma reflexão sã e frutuosa que nos conduza a compunção de coração, nos retire da inércia e nos mostre que somos capazes de transformar nossa porção de mundo.
Comecemos pelo cenário político. O de Santana é a franca demonstração da lei de Talião: olho por olho, dente por dente. Sei que o Império babilônico foi o pioneiro na criação de um sistema legal. Contudo, sua queda se deveu, dentre outros tantos fatores, à aplicação da lei acima referida. “Reino dividido é reino destruído, insustentável”!
Santana deu fruto a grandes vultos. Sua “alma” é muito grande e nobre. O que diria hoje o Senador João Cordeiro da Costa, grande líder do movimento abolicionista, que entregou sua vida à causa da libertação dos escravos, que empreendeu grandes embates políticos cheios de sentido, se visse as rixas e disputas vazias a que se entregam os líderes de sua terra nos dias de hoje?
Não somos tolos ao ponto de querer que inexista nos espíritos humanos o choque de opiniões e de ideias. Tampouco somos ingênuos ao ponto de querer que não devam existir admoestações públicas aos que erram. Uma vivência pacífica pressupõe a mútua correção fraterna e humildade onde cada um admita seus erros e em gestos concretos os busque reparar.
Muito menos ignoramos que cultivar um espírito que nos conduza a separar o que é público do que é pessoal, é algo desafiador! Somos seres em construção!
Porém, não vemos em Santana sinais de construção e muito menos sinais de que estamos dando passos na direção do Shalom: a paz completa que o mundo não dá.
Sim, a paz existe, o perdão existe, recomeçar é possível e o amor (o ágape) existe!
Os frutos desta vazia disputa, cuja motivação é a vingança pessoal a um opositor e não o bem público, são visíveis: no ano de 2009 tivemos uma taxa de reprovação de alunos no ensino fundamental de 11,7%, (2,2% a mais que o estado), a maior concentração de oferta de empregos(1393 empregos formais) ainda está com a administração pública ( que tem sempre folhas de pagamento ultrapassando seus limites) conforme se observa de dados de 2008, uma cobertura de esgotos de 17,03% segundo dados de 2009, dentre outros tantos dados oficiais que poderíamos citar.
Outros dados de senso comum são notórios: aumento do número de casos de uso de drogas ilícitas e do tráfico, a falta de opções de lazer que construam o caráter dos nossos jovens, o aumento velado do número de casos de prostituição infantil, aumento do número de casos de acidentes automobilísticos com vítimas fatais em nossas estradas, dentre outros.
Assistimos a uma grande luta pelo poder. Contudo quando se quer o poder pelo poder, este não se traduz em serviço, tornando-se uma serpente venenosa cuja peçonha distorce o caráter de quem o detém.
Até quando prosseguiremos com este modo de viver onde as pessoas se definem por números de siglas partidárias, tornando-se inimigas umas das outras, seguindo a postura aguerrida dos seus devotados líderes, entregando-se a discórdia que chega ao ponto de interferir no bom andamento dos serviços públicos?
Precisamos de outro padre Ibiapina que nos pregue a paz, que exorte os inimigos a se reconciliarem e ao povo a trabalhar num grande mutirão.
Deixo para uma reflexão final esta letra de uma música de Juan Luís Guerra para que a reflexão prossiga no coração daqueles que entenderem esta mensagem de fato:

( SE ALÉM DE LER VOCÊ QUISER OUVIR A MÚSICA CLIQUE NA BARRA DE SOM ABAIXO)

Ai! Ai! cariño,
La cosa que yo estoy viendo como la explico.
Ai!!Ai! cariño,
Apaga y vámonos que es lo mismo.
Ai! Ai! cariño,
¿Qué hacemos con la sordera y con el cinismo?
Ai! Ai! cariño.
Apaga y vamonos que es lo mismo.
¡Lo mismo otra vez!
El mismo bolero, el mismo cassette.
La carne mechada y el mismo puré.
La misma esperanza, el mismo talón.
De Aquiles recuerdos, bailemos un son.
Ai! Ai! cariño,
¿Qué hacemos con la conciencia del entendido?
Ai! Ai! cariño,
Apaga y vámonos que es lo mismo.
Ai! Ai! cariño,
¿Cuántas palomas volando hacen un nido?
Ai! Ai! cariño,
Apaga y vámonos que es lo mismo.
¡Lo mismo otra vez!
La misma ignoracia, el mismo ballet.
Ya ví el cascanueces, con su pas de deux.
El mismo escenario, la misma función.
Nos sobra la clave, bailemos un son.
Apaga y vámonos, ¡Ai hombre!
Que los maderos son del monte.
Apaga y vámonos, ¡Ayy hombre!
Con tanta necedad dan ganas de llorar, ¡si hombre!
Ayy!!Ayy! cariño,
¿Qué hacemos con los que ofrecen Villa y Castillo?
Ayy!!Ayy! cariño,
Apaga y vámonos que es lo mismo.
¡Lo mismo otra vez!
La misma promesa, el mismo cd.
La misma mentira y el mismo café.
El mismo discurso y el mismo cliché.
La historia recicla, nos queda la fe.
Apaga y vámonos
Que yo no sé,
Los hombres buenos donde se ven.
Apaga y vámonos
Digamé usted,
Los hombres dignos donde se ven.
Apaga y vámonos
Que yo no se,
Los hombres nobles donde se ven.
Apaga y vámonos
Digame usted,